terça-feira, maio 16, 2006

relato autobiográfico e memória de infância* (primeiro e único)

aquele retrato ampliado, uma fotografia a preto e branco poderosa, com uma moldura preta e um vidro pesado, esteve encafuado no armário durante muito tempo. tempo demais, parece-me tão claro agora. dou por mim a olhar para a criança retratada como se não fosse eu e pergunto-me muitas vezes onde ela está, onde foi que ela se perdeu, qual o momento exacto em que tudo se estilhaçou. ela não me responde, embora sinta que o seu olhar me procura, como uma alice do outro lado do espelho e que me pergunta com uma curiosidade grave: és feliz? agora, como numa espécie de vingança secreta, o retrato está pendurado ao lado da porta da minha casa. é o último objecto familiar que vejo antes de sair de casa. e o primeiro quando entro. para que não me esqueça, nunca, de quem sou.

não devo ter mais que cinco, seis anos, com o meu cabelo ainda liso, à garçonne, o meu boné de bombazina, a minha t-shirt adorada do sandokan, que usei até muito depois de o vermelho escuro estar desbotado e feio. no outro dia um amigo comentou: "é tão bonita, esta foto. parece francesa". e ficou ali um bom bocado a olhar para a criança adulta com olhos tristes.

* título roubado ao azia, a quem dedico este post

quinta-feira, maio 11, 2006

luther king revisitado

i have a blog

publicidade enganosa

o "zé das uvas" afinal vende lenha.

concertos (-)

não gosto de ficar especada para os ecrãs.
não gosto daqueles casais enfastiados, que levam os concertos agarrados, ele atrás dela, mão na mão, a darem aos braços e a fingirem que se estão a divertir.
não gosto de ficar do lado esquerdo.

concertos (+)

gosto de sentir a música a vibrar no tórax.
gosto de encontrar pessoas que já não via há muito tempo.
gosto de ficar do lado direito.

xxi semana académica ualg

ontem foi uma bela reggae night.
apercebi-me de que fico sempre do lado direito do palco.
anos a fio.
em qualquer concerto.
dei por mim a imaginar como será ficar no lado esquerdo.

depois, hoje, lembrei-me que, quando frequentava o salão do reino das testemunhas de jeová, anos a fio, também me sentava sempre do lado direito.
e lembro-me que costumava imaginar como seriam as noites de terça e quinta feiras longe dali, fora dali.
noutro sítio qualquer.

sexta-feira, maio 05, 2006

lixada

esta ressaca da dor.

quarta-feira, maio 03, 2006

metáfora visual para "impasse"

a meio caminho entre o chicote castrador da consciência e a barra de ferro libertadora que reduz tudo a estilhaços.

bandas sonoras da vida

your love feels like trumpets sound


fragmento de trumpets, 1985, waterboys

terça-feira, maio 02, 2006

jam session

aquele calceteiro devia ter sido músico.

metáfora visual para "sentimento de culpa"

ser o saco de pancada de si próprio.

dão-se alvíssaras

há monólogos interiores, chatos e intolerantes, que se aturam estoicamente, como uma leitura compulsiva.
não há quem os consiga calar.
a não ser o tic-tac de um tal relógio ferrugento.
não sei onde o pus.

1º de maio de 2006

mergulhei no oceano
e encontrei uma conchinha vermelha.