suburbia
a frança está em guerra civil. exagero? dum lado da barricada está a polícia e está um ministro que usa a palavra "escumalha" para se referir publicamente aos cidadãos suburbanos de paris. do outro lado estão os filhos da suburbia, uma espécie de terra de ninguém em que ninguém se sente em casa. porque a suburbia não é frança nem magreb, não é frança nem portugal, não é carne nem é peixe. a suburbia é uma espécie de enclave mental e cultural, um depósito de almas humanas, comodamente distante do coração da cidade cosmopolita, arejada e luminosa. demagogia? talvez... queimar carros não ajuda a evitar os clichés associados ao vandalismo e ao comportamento marginal. no ano passado estive em paris pela primeira vez. fiquei alojada, durante cerca de 12 dias numa pequena localidade a 30 km da capital. o clima de guerrilha estava ali latente. contido, mas era possível sentir-lhe o cheiro. um pouco como em toda a parte. como em carcavelos. como na los angeles retratada em colisão, a surpreendente fita de paul haggis. mais do que uma questão de cor de pele, mais do que uma questão de racismo, de diferenças culturais ou de identidade, deparamo-nos constantemente com situações próprias da condição humana. próprias da maneira como o ser humano trata o seu próximo e o seu semelhante. uns mais próximos que outros. uns mais semelhantes que outros. como haggis demonstra, não há respostas fáceis. desde que os subúrbios de paris começaram a arder, literal e simbolicamente, não consigo parar de pensar na visão do realizador português joão canijo, retratada em ganhar a vida, que conta com o desempenho, a todos os níveis brilhante, de rita blanco. vale a pena ver(ou rever).
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