bandas sonoras da vida
quando amadou e mariam disseram aos pais que se queriam casar, eles não queriam aceitar porque não viam futuro para uma família de cegos num país pobre como o mali.
só que além do amor, eles tinham outro aliado poderoso: a música.
no momento em que se conhecem num instituto para jovens invisuais em bamako, em meados dos anos 70, amadou vivia já uma experiência interessante como guitarrista em orquestras de hóteis. mariam expandia o seu talento como cantora, no instituto.
em 1980, o amor culmina em casamento e o talento musical numa carreira em dueto. não é fácil, mas a sua música começa a ser conecida: primeiro na região e depois na europa. gravam 3 discos com edição internacional entre 1998 e 2002, mas é em 2004, com dimanche a bamako, produzido por manu chao, que explodem.
é um som fiel às raízes dos blues do mali, mas agitado por uma componente funk generosa, com elementos da salsa, do reggae, da pop, entre outros, numa fusão rítmica irrestível, imparável e incansável.
descobri-os na última edição do festival músicas do mundo (fmm), em sines, no verão do ano passado. o concerto deles é das melhores memórias que tenho desse festival. a alegria de viver que a música lhes dá emociona e contagia. foi um dos pontos altos, tão bem descrito no site do fmm:
"amparados um no outro, amadou & mariam não puderam ver o baile que estavam a montar no terreiro do castelo. mas puderam imaginar o prado de felicidade a desabrochar à sua frente. foi o concerto mais amado do dia."
nos últimos dias, dimanche a bamako tem-me acompanhado.
é uma música carregada de afectos, força, coragem e esperança.
carregada de tudo o que o ser humano tem de melhor.
sempre que os obstáculos parecem difíceis de ultrapassar, vale a pena pensar no exemplo deste casal.
e ouvir a sua música.
afinal, a vida também tem bandas sonoras.
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